sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Vida Subtraída

Aos compridos 18 anos, subtraíram-se alguns meses para 19.
Vi uma flor, que ao dedo do vento se movimentara aos estilhaços de vida.
Se fez perceber que horas pedem minutos. Minutos, segundos.
Enquanto se abrevia o tempo, se alivia a dor. Imita um sorriso e se faz música para renascer esperança. Porque o espelho imita o ser, o ser no espelho imita cacos do próprio ser.
Dias são tristeza e dor. E da alegria nasce o tédio. Do amor, a confusão. E tudo fede, fede...
Fede e fede!
Chuva ácida não corrói o tempo, mas faz líquido o corpo petrificado.
Sonhos são nebulosos, cheios de fleches em lugares distintos e desconhecidos, ao meu mundo consciente e subjetivo.
Cada balanço vital é morte. A lua é insípida e se completa na escuridão. Mas eu, jamais me completei.
Choro triste e vazio, de um amor que nunca existiu.
O estômago se irrita com uma simples dose de remédio, enquanto o pulmão nega o ar.
E nas veias... Falta nitrogênio. Na roupa, o corpo que flutua no coração de gelo. Tudo é gelo e a vida já não se pinta de verde e amarelo.
Sem tom, minha voz vaga silenciosamente no escuro da alma. Onde sem ter como repousar, morre aos poucos em sofrimento.
Alguns criam deuses, outros propriamente se inventam. Mas há quem do ópio, fabrique a morfina e da realidade, crie a utopia. Mas quanto a todos, vampiros existem para alimentar-se de sangue e mosquitos para espalhar mais doenças.
E no fim, morro mesmo é de tédio! Porque o início é a infância. Infância de prazer ao saborear grandes e pequenas formigas; ao chão do banheiro pensando ver tudo maior.
Que na lupa viu o sangue. Famintos, larápios sem antecedentes de qualquer crime deixaram apenas os pedaços de qualquer corpo intrometido. Das frases nos muros, das quais “o cagueta sempre morre.”
Chorei ao fim de cada filme. Na violência caseira ou na escola que sorri, ao marcar um rosto com violência.
Escrevi aos muros, deixei o álcool entorpecer-me o fígado e a fumaça confundir o pulmão.
Das facas que apontei, furei apenas os meus próprios pulsos. Dos chicotes que usei, costas marquei. Assim como as pernas do meu próprio pai, que depois me acertou a cinta.
Porque a vida que me ensinaram se palpava em jogo, se valia do forte sobre o fraco e eu seria um leão feroz.
O Deus que me ensinaram, era bom. No entanto criara o mal.
Enquanto o julgo vem dos maiores, os vencedores são os melhores. Mas se na mesa não se criou jogo, tão pouco se fez vencedor.
Se eu que sou matéria simples não tenho pulso pra julgar, tão pouco o que não é carne.
A infância é o princípio, a adolescência é o meio e o amanhã, o fim. O princípio adota o fim, enquanto o meio é um jeito de consentir que existiu um tempo, assim como em cada um de todos os tempos.
Um galho para outros galhos, a chuva para os raios, o sangue para as veias, um coração para sentir e uma cabeça para pensar.
São registros no claro de uma luz a velas, em estranha sabedoria numa espécie de escuridão de vela; cera dilata e oxigênio, calor é combustível igual a fogo.
Faz-se um círculo no chão e escorre definhando como a baba de um bebê, sobre a cera de branco e o trovão que se rompe nos vidros, jorrando água como uma ejaculação. E problems!
Problems! Problems!      
Quase dano cerebral e chicletes na adolescência de infância proibida. Surtos Willy Wonka e a fábrica da infância perdida.
Adolescentes são confusos e quando crescem não são tão diferentes. Entediado, sem rumo a doses de confusão pelas ruas do sexo, drogas e rock ’n roll.
Agora de gota em gota, torno-me líquido. A eternidade fria e todos os dias diante de mim, numa noite latente, segredos latentes, beijos latentes na morte evidente e um fim, para todos os fins... Uma vida subtraída.

IV/MMIX